Março, o Mês das Mulheres, está chegando ao fim. Mas não será esquecido tão fácil por aqui, afinal, nesse período, nossa agência foi 100% delas!

Com a campanha “Que mulher você é“, nós abordamos os diferentes perfis de mulheres, desde a moderna emponderada (na cultura girl boss) até a trad wife – mulher tradicional que prefere o papel de gênero engessado dos anos 1950.

No contraponto, conhecemos ainda Geração Sanduíche, que são, em maioria, mulheres que cuidam geralmente de entes familiares. Como por exemplo: de filhos, netos, pais, avós, etc.

Mês das Mulheres: a diversidade das mulheres da PressTexto

Esse tema foi abordado em uma roda de conversa especial para o Mês das Mulheres, realizada entre todas as mulheres da PressTexto: Maura Hayas, Bruna Habiro, Van Martins, Danielle Lautenschlaeger e Giselle Ferreira.

Diversas em personalidades, únicas em suas essências, ricas em suas histórias de vida, elas compartilharam a trajetória e o que as define como mulher. Para encerrar esse Mês da Mulher, compartilhamos estas história delas.

Conheça agora:

Maura Hayas – Ela é atriz e dura na queda

Eu cresci entre meninos nos anos 70 e 80, num bairro tradicional e, claro, machista. Meu pai, igualmente machista, mas com uma sabedoria inata, sabia que para sobreviver nesse mundo eu teria de entender o jogo.

Ele me ensinou a nunca abaixar a cabeça para homem nenhum. E, assim, eu cresci acreditando que nada poderia me diminuir diante de um homem. Claro que já sofri abuso de todos os tipos – sexual, moral e até físico – e ainda hoje, aos 54 anos, preciso ficar atenta, porque o machismo estrutural é forte. Tem sempre alguém para te dizer o que você não pode fazer como mulher.

Mas eu continuo acreditando nas palavras do meu pai: homem nenhum vai me dizer o que eu posso ou não fazer. Sou atriz, sou jornalista, sou designer, faço tudo o que eu quero. Não me visto como acham que devo me vestir, me visto como me sinto bem. Exerço a minha cidadania e levanto minha voz contra o que acho errado.

O machismo atrapalha? Sim, muito. Imagine o quanto poderíamos mudar esse mundo se os homens não tivessem determinado a cultura, com um monte de mentiras sobre a capacidade e o papel das mulheres?

Por isso acho importante abrir um canal de diálogo com outras mulheres, para que a gente possa se ouvir e entender que estamos do mesmo lado. O machismo quer que acreditemos que mulheres são inimigas umas das outras. Não somos. E precisamos nos ouvir e nos acolher.

Bruna Habiro – Ela está aprendendo a ser mulher

Comecei minha jornada de desafiar ‘regras’ sociais logo cedo, brigando com meninos da minha sala de igual para igual e nunca deixando de defender o que eu acreditava ser o certo. Isso resultou em várias idas à diretoria e conflitos com professoras que queriam arrumar meu cabelo ou me ver ‘bonitinha como as outras meninas’.

Hoje, eu ainda estou aprendendo o que ser mulher significa para mim. Encontrei o meu chamado na bruxaria e em sua história, que se emaranha com a luta feminista por igualdade entre gêneros, sem falar em como o movimento de #BodyPositivity me ajuda ainda hoje a aceitar as falhas que me foram apontadas desde cedo.

Fingir que a violência contra a mulher não existe não é uma maneira válida para que ela de fato deixe de existir. É um absurdo mulheres do século 21 ainda terem que lutar para serem vistas e tratadas como seres humanos dignos de respeito e, por isso, precisamos de ainda mais diálogo e educação sobre os temas que nos envolvem!

Assédio, violência, pouca credibilidade e a própria morte são perigos que enfrentamos todos os dias e é com isso em mente que me aventuro fora da casa dos meus pais, que fizeram questão de nutrir a mulher independente e rebelde em mim.

Van Martins – Ela é rebelde, dona de si

Desde criança sempre fui recheada de rótulos: Maria João, rebelde, atrevida, louca. Ainda que me incomodassem, eu nunca quis derrubar nenhum deles. Afinal, se usar roupas do meu irmão e gostar de jogar futebol em meio a um monte de meninos fosse ser uma Maria João, eu iria continuar sendo, pois tudo isso me divertia e não mudei para me adequar à opinião de ninguém.

Eu cresci contrariando o que esperavam de mim, sempre livre. E, isso, não deveria ser nenhum problema, mas quando se trata da liberdade da mulher, tudo é contestado. Seja usar uma roupa, se divertir em uma balada, viajar sozinha, escolher não ter filhos ou se casar.

Na minha liberdade de escolha, eu decidi investir nos meus estudos, construir uma carreira que me fizesse realizada, sempre cuidar da mente e do corpo e explorar muito do Brasil e do mundo. Conquistei tudo isso. Mas, até hoje, sou criticada por não ter seguido a receita da família feliz.

Só que, diferente daquela menina que não rebatia as críticas, hoje, eu uso a minha voz para dizer ‘Essa é a minha vida, as minhas escolhas e elas só dizem respeito a mim. O seu parâmetro de felicidade não representa o meu. Então, o mínimo é cada um respeitar a liberdade do outro’.

Sou a rebelde que joga a mochila nas costas e vai para qualquer lugar inesperadamente. Também sou a atrevida que não abaixa a cabeça para ninguém. Sou a louca que prioriza equilíbrio físico e mental do que propostas incríveis de trabalho. E ainda sou a Maria João, que ama futebol, mas agora uso roupas do meu namorado quando bem entender e sem me preocupar com o que vão dizer. Eu sou livre para ser do jeito que eu quero e sempre quis ser!

Danielle Lautenschlaeger – Ela é mãe solo

Nasci para ser princesa. Filha única, por opção dos meus pais, que queriam me dar tudo do bom e do melhor, fui criada para ser a aluna perfeita, a filha perfeita, a amiga perfeita e, futuramente, a mulher perfeita.

Na visão deles, a mulher perfeita era aquela que cuidava da casa, dos filhos, estava sempre maquiada, com cabelo arrumado e unha feita. Mas… a receita de bolo não funcionou comigo. Sempre fui aquela que gostava mais dos moleques, que jogava futebol, que falava muito palavrão, raramente penteava o cabelo e as unhas eram todas roídas.

Comecei a trabalhar aos 16 anos, com 17 entrei na faculdade, com 18 comecei a namorar e com 20 já estava grávida. Tudo atropelado, mas essa sou eu. Ser mãe solo aos 21 anos, ir morar sozinha com a minha filha recém-nascida, continuar trabalhando e estudando…

Tudo isso me deu força para ir atrás da mulher que eu queria ser e que sou hoje: forte, independente, chorona, acima do peso, que fuma, bebe, fala palavrão, gateira, crocheteira, não segue estereótipos, mas é feliz e realizada.

Por mais que eu faça parte da Geração Sanduíche, tento ser o mais livre possível. Estou sempre em busca de me realizar sem pensar no que os outros vão dizer, de ir ao encontro dos meus sonhos, das minhas realizações e vontades.

Sou tudo que quero? Ainda não. Tenho tudo que desejo e preciso? Ainda não… Mas eu só tenho 46 anos e tenho muito caminho pra trilhar, realizar, conquistar e festejar.

Giselle Ferreira – Ela é exemplo de amor e cuidado

Na minha época, para você chegar nos Estados Unidos era um mês viajando. E não era de avião não! Era de navio! Eu fui criada na roça. A gente não tinha tantas opções de vida como hoje. Desde a infância, a molecada tinha que trabalhar, não tinha jeito. Quando eu fiz 17 anos, eu vim para São Paulo para trabalhar em uma casa em Interlagos para poder ajudar e família.

Muita coisa mudou da minha época para cá. É tudo muito difícil, eu não consigo acompanhar, sabe? Mas eu gosto do que faço hoje, porque eu tive sorte! Aliás, no meu trabalho, eu gosto de 2 coisas que muitas pessoas não gostam: passar roupa e cozinhar. E, quando você faz o que gosta, você nem vê o tempo passar, não é? É rapidinho.

Quando entrei na PressTexto, eu não sabia nem ler! Então, quando o sobrinho do Ricardo Pinheiro (fundador da PressTexto) nasceu, eu falei: ‘não, eu vou aprender um pouquinho’ e então aprendi a ler e escrever. Completei só o primário, só mas consegui! Para quem não tinha nada, foi ótimo.

Ser mulher para mim é fazer tudo o que você tem vontade de fazer e gosta. Eu, por exemplo, não gosto de nada que me oprime. Eu gosto de ser livre, fazer o que eu quero na hora que eu quero.

Claro que no trabalho existem regras, mas depois do trabalho você é livre para fazer o que quiser. Isso é muito bom, né? Porque, antigamente e ainda hoje, tem gente que dorme no trabalho. Aí, querendo ou não, acaba vivendo a vida do patrão. Eu não, eu vou embora e viver minha outra vida, entendeu?

Por: Van Martins