A expressão Novo Normal ganhou as manchetes e as rodas de discussão virtuais. A ideia é que, quando a pandemia passar, estaremos todos diante de um mundo diferente, no qual as soluções de tecnologia ocuparão mais e mais lugar na vida de todos nós. Do cardápio do restaurante às reuniões de executivos, das mudanças dos hábitos de higiene ao comportamento dos consumidores.

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Seja como for, o tal Novo Normal seria uma espécie de mudança da história, uma espécie de mudança da rotação do planeta, que de uma hora para outra começará a girar na direção contrária.

Será mesmo?

Vamos lá.

Alguém é capaz de dizer com certeza quando o tal vírus vai deixar de ser uma ameaça à segurança dos sistemas de saúde mundiais?

Alguém seria capaz de apostar seu rico dinheirinho em qual será o ritmo da tal “retomada”, tão esperada por todos nós?

Alguém que tenha chegado até aqui neste texto é capaz de garantir que sairemos melhores ou piores desse momento, especialmente quanto ao comprometimento com investimentos coletivos e maciços em sistemas de saúde, saneamento, prevenção, educação, etc, etc, etc?

Arrisco dizer que não. A não ser que você, caro leitor, tenha alguma informação que os médicos e cientistas da galáxia toda ainda não têm.

Em outras palavras, por enquanto, vivemos um grande 0 x 0, cheio de mensagens publicitárias emocionantes, de mensagens de que “vai passar” e, sim, de muita gente ajudando e outro tanto atrapalhando. Em resumo, tudo chute.

Vivemos em todos os setores sociais e econômicos uma grande, enorme, gigantesca situação de indefinição. E que continuará assim até que a ciência nos traga respostas efetivas.

Ah, então não temos o que fazer!!

Muito ao contrário. Temos muito o que fazer. Eu diria que temos mais o que fazer do que em qualquer outro momento de nossa história.

Temos em nossas mãos ferramentas tecnológicas e de informação como jamais tivemos. Somos capazes, portanto, de usá-las para não repetir, no tal Novo Normal, os mesmos erros que nos trouxeram até essa sinuca de bico.

Sim, porque o vírus é o vírus. Ele está na dele!

Mas a falta de comprometimento social, de um olhar coletivo capaz de entender que vivemos todos no mesmo espaço, que as desigualdades serão tão mais cruéis quanto forem fomentadas, isso tudo não é responsabilidade do vírus.

Essa “responsa” é nossa, que falhamos profundamente como civilização.

Quer um exemplo?

Em meio à maior treta que já vivemos, alguém pode imaginar que deveríamos focar em qualquer outra coisa que não fosse na solução científica e na contenção de seus danos sociais?

Ah, mas e a economia?

Bom, a essa altura já deu para perceber que os destinos da economia global será resultado do que fizermos agora. Tratar do sintoma ou ignorar a própria doença – sim, tem gente fazendo isso – só fará atrasar a retomada não apenas da economia, mas de nossa interação social.

O Novo Normal, portanto, por enquanto só existe na teoria e na esperança inerente à condição humana.

E isso é ótimo!

Afinal, temos ao nosso lado não apenas as ferramentas, mas o tempo para repensar prioridades e decidir qual mundo queremos para nossas famílias, cidades, países…….., planeta.

Queremos mesmo construir um “futuro que repita o passado”?

Resumo da ópera?

Pouco importa se o Novo Normal vai ser mais ou menos digital, se vamos usar mais nossas salas virtuais, se nossas interações acontecerão mais ou menos via smartphones ou pombos-correios.

O ”X” da questão é se vamos ou não entender que o planetinha é pequeno, que o “mercado” é dependente de PESSOAS e que essas pessoas são dependentes de ouras pessoas.

Essa decisão, ainda, está nas nossas mãos. Como sempre esteve, aliás.

Normal. Nada de novo nisso!

Por: Ricardo Pinheiro