Fevereiro Laranja é uma campanha de conscientização sobre a leucemia – tipo de câncer que afeta as células sanguíneas, principalmente os glóbulos brancos. A iniciativa é organizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) e tem como objetivo informar a população sobre os sintomas, diagnóstico e tratamento da doença. Além disso, também reforça a importância da doação de medula óssea, gesto essencial que ajuda a salvar vidas de pessoas com leucemia.

Esse tipo de doação ainda enfrenta muitos tabus, que gera uma baixa adesão de doadores no Brasil. Para mudar isso, neste artigo, nossa jornalista Dani Lautenschlaeger, relata a experiência vivida com o seu pai – que teve leucemia –  destacando os mitos e verdades e como foi o processo de transplante de medula óssea dele.

Confira o relato e compartilhe a informação com os seus amigos, colegas de trabalho e até mesmo, nas campanhas de comunicação de saúde e bem estar da sua empresa.

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Mitos e verdades sobre a leucemia e o transplante de medula óssea

Pela voz da filha de um paciente transplantado

Era 21 de junho de 2012, dia do meu aniversário de 35 anos, estava eu trabalhando quando recebi a ligação do meu pai, que estava internado há dois dias para fazer exames, pois estava se sentindo um pouco fraco, zonzo e com a pele amarelada.

Oi pai, bom dia!

– Oi filha, bom dia! Como você está? Parabéns pra você, muita saúde e felicidade nesse seu dia. Os médicos acabaram de sair daqui do quarto e descobriram que estou com leucemia…

Fiquei toda estremecida, com as pernas moles e contive o choro. Meu mundo desabou, mas, pelo telefone, consegui me manter firme e confiante.

– Nossa pai, jura? Mas hoje em dia o tratamento está avançado, né… Veja o Gianecchini (ator Reinaldo Gianecchini) como está bem.

Na época, o Gianecchini estava fazendo tratamento para um linfoma não Hodgkin, que assim como a leucemia, é um tipo de câncer no sangue.

A partir daquele dia a luta para encontrar a cura começou. Pouco sabíamos sobre a doença e eu, curiosa nata que sou, fui atrás de matérias, estudos científicos, artigos, entrevistas de médicos para poder entender um pouco mais sobre o tema.

A visita ao hospital passou a ser diária, pois logo descobrimos que a tontura e fraqueza do meu pai se davam pelo baixo índice de plaquetas e hemograma todo alterado.

Passei a dor sangue com regularidade e incentivar meus amigos e conhecidos a fazerem o mesmo. Meu pai estava fraco, cansado e a partir dali sua imunidade ficaria ainda mais fragilizada por conta das sessões de quimioterapia. Ao longo de sua internação, foram onze sessões para tentar estagnar o desenvolvimento da doença.

Mas qual era a única forma de curar meu pai? O transplante de medula óssea.

Fiz o teste e eu não era compatível, então, incluíram o nome do meu pai no REREME – Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea – para iniciar as buscas no REDOME – Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea.

Por algum tempo o nome dele ficou lá, enquanto aguardávamos a compatibilidade dos testes feitos pelos irmãos dele, até que uma grata surpresa aconteceu: o irmão mais velho do meu pai era 98% compatível, dado que naquele momento era imensamente fantástico devido ao desenvolvimento extremamente veloz da doença.

Durante alguns dias meu tio tomou um medicamento para estimular o organismo a produzir mais células-tronco. Ele estava um pouco receoso sobre a doação de medula, mas tudo correu tranquilamente e ele fez a doação por meio de aférese.

Veja como o INCA – Instituto Nacional do Câncer – explica o procedimento:

Aférese: Método em que o doador faz uso de uma medicação por cinco dias, com o objetivo de aumentar a produção de células-tronco circulantes no seu sangue. Durante o uso desta substância, pode ocorrer dor óssea e muscular, além de cefaleia. Após esse período, a doação é realizada por meio de uma máquina de aférese, que colhe o sangue através de duas veias do doador, uma em casa braço, ou uma veia profunda, separa as células-tronco e devolve os componentes do sangue que não são necessários para o paciente. Não há necessidade de internação e anestesia.

No mesmo dia meu tio foi para casa sem nenhum tipo de intercorrência. A escolha da doação por aférese foi feita pela equipe multidisciplinar que cuidava do meu pai e também pelos médicos responsáveis por entender como seria a melhor forma para o meu tio doar.

Existe um outro modo de se doar a medula óssea, que é por punção. Nesse caso, o doador é levado ao centro cirúrgico e, anestesiado, a medula é retirada do osso de sua bacia por meio de punções. Nesse caso é necessária internação de 24h e, se houver dores no local, o paciente é incentivado a tomar analgésicos por alguns dias.

Voltando ao meu pai…

Depois disso, meu pai recebeu a medula do meu tio e ficou internado em uma UTI, sem contato com muitas pessoas e visitas de no máximo 15 minutos por dia. Isso é essencial para garantir a integridade do paciente, visto que a imunidade cai totalmente, já que primeiro o organismo tenta “eliminar” essas novas células.

Do transplante de medula até o organismo entender que aquelas células são boas e aceita-las, chama-se popularmente do período de “pega”. E, depois de 10 meses ininterruptos de internação, a medula do meu pai pegou e ele foi para casa, com inúmeras restrições, mas estava em casa.

Como mencionado neste breve relato nas linhas acima, tudo parece muito simples e rápido, mas não é, principalmente pela falta de informação e tabus que as pessoas ainda carregam quando falamos de leucemia e doação de medula óssea.

Então vamos agora entender um pouco mais sobre os mitos e verdades sobre o tema:

Ser doador de medula é muito burocrático? MITO

O doador deve seguir apenas três passos:

  1. Procurar um hemocentro com documento de identidade em mãos (clique aqui e veja a relação de todos os hemocentros disponíveis no Brasil),
  2. Assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e preencher uma ficha com informações pessoais,
  3. Ceder uma pequena amostra de sangue para análise de compatibilidade.

Depois disso, os dados serão incluídos no REDOME e, quando houver um paciente com possível compatibilidade, o doador é consultado para decidir se quer ou não fazer a doação.

Preciso refazer meu cadastro no REDOME todos os anos? MITO

Após a inserção da sua amostra de sangue no sistema, o cadastro é vitalício. A única coisa que você deve se atentar é para sempre manter suas informações cadastrais atualizadas.

Sendo assim, se você trocar de endereço ou celular, é muito importante que atualize o cadastro imediatamente para que seja localizado casa haja compatibilidade com algum paciente que necessite do transplante de medula óssea.

Doar medula dói? MITO

A doação em si é indolor, principalmente quando feita por aférese. Já no caso da punção, o que pode ocorrer é um pouco de dor pós doação na região da bacia, que pode ser amenizada com o uso de analgésico por alguns dias.

Posso doar medula óssea para qualquer pessoa no mundo? VERDADE

A primeira busca por pessoas com medula óssea compatível é realizada dentro da família, mas, o essencial para se realizar um transplante de medula óssea é que haja compatibilidade entre receptor e doador.

Para isso existe o REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), que faz a busca de doadores cadastrados no mundo todo.

Posso doar medula óssea mais de uma vez? VERDADE

Sim. Você pode ser muito sortudo e salvar mais de uma vida. A medula se regenera em 15 dias após a doação. Caso seja encontrado um novo paciente compatível, o processo pode ser repetido após 15 dias se você consentir para essa nova doação de medula óssea.

Posso retomar as atividades diárias no dia seguinte à doação? MITO

A recomendação médica é três dias de repouso. Como a doação é prevista em lei, é possível se ausentar do trabalho por este período e receber atestado médico.

Existem poucos doadores de medula cadastrados? MITO

Mesmo com a falta de conhecimento e muitos tabus a serem derrubados, existem milhões de doadores de medula óssea cadastrados em todo o mundo. Dados atualizados em 2002 mostram que, no Brasil, existem hoje mais de 5,6 milhões de doadores de medula óssea cadastrados, totalizando 41 milhões em todo o mundo.

Qualquer pessoa pode doar medula óssea? MITO  

Para ser um doador é necessário ter entre 18 e 55 anos de idade e estar em bom estado geral de saúde. Isso significa que o doador de medula óssea não pode ter doença infecciosa ou incapacitante, nem apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico.

Nem todas as complicações de saúde são impeditivas para doação, mas cada caso é analisado de forma individual. Antes de procurar um hemocentro, clique aqui e veja a relação de doenças que podem impedir sua doação de medula óssea.

Fui chamado para doar medula. Tenho que ir no mesmo dia? MITO

Assim que você for identificado como um potencial doador compatível, você será contatado e convidado a realizar novos testes de compatibilidade e uma avaliação clínica e laboratorial.

Confirmada a compatibilidade com o paciente e o seu bom estado-de-saúde, a doação é agendada. Este processo costuma levar 60 dias e não é necessária nenhuma mudança de hábitos de vida, de trabalho ou de alimentação.

Existem poucos doadores compatíveis? VERDADE

Em função das características genéticas do sistema HLA, a chance é de 30% de compatibilidade entre irmãos e muito menor quando buscamos doadores não-aparentados. Por este motivo, existem os Registros de Doadores Voluntários em diferentes países, totalizando mais de 41 milhões de doadores no mundo.

O REDOME é hoje o terceiro maior registro em todo o mundo e representa, para os pacientes brasileiros, a maior chance de encontrar um doador não-aparentado.

Seja doador também!

Agora que você já tem bastante informação sobre o tema, que tal ir ao hemocentro mais próximo e se cadastrar como doador de medula óssea? Dados do IBCC – Instituto Brasileiro de Controle do Câncer – mostram que existem hoje 850 brasileiros em busca de uma medula óssea compatível.

Nesse Fevereiro Laranja, campanha que tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a leucemia e a importância da doação de medula óssea, que tal fazer sua parte e contribuir para a redução da fila dos pacientes com leucemia que aguardam por um transplante?

Veja alguns canais oficiais para que você possa entender ainda melhor sobre a doença e conhecer a fundo os números, formas de doação e transplante de medula óssea.

REDOME – https://redome.inca.gov.br/

Ministério da Saúde – https://www.gov.br/inca/pt-br

IBCC – https://ibcc.org.br/unidade-de-hematologia-e-transplante-de-medula-ossea/

ACCamargo – https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/tratamento-oncologico/transplante-de-medula-ossea

Por: Dani Lau